E se tentarmos examinar o processo, surge a questão: O que estamos buscando? Embora possamos distinguir vários objetos de nossa busca, tais como felicidade, relacionamentos valiosos, benefícios materiais, qualidades intangíveis, controle sobre o que está acontecendo conosco – e assim por diante – tudo isso é uma espécie de luta pelo desenvolvimento, pela integridade.
Todos estão em busca de integridade, com intensidade maior ou menor. Mas como somos diferentes, todos – com base em seu próprio estado de consciência – encontram sentido em diferentes objetivos e aspirações que acreditam que lhes darão satisfação ou algum crescimento.
E obviamente não há como imaginar algo completamente estranho para nós. Porém, colocamos diante de nós mesmos nossa própria ideia de valor e depois buscamos maneiras de realizá-la. Entretanto, isso significa que realmente nos autoafirmamos e afirmamos nossas próprias ideias, nossos próprios critérios.
Hoje existem muitos métodos populares para atingirmos uma espécie de materialização de desejos. Eles nos ensinam como podemos direcionar nossa energia mental para que, em algum momento, ela tenha densidade suficiente e possa ser manifestada no mundo dos fenômenos. Porém, com essa chamada “descoberta”, criamos uma enorme dependência, que nos governa e nos limita.
É evidente que até nosso primeiro desejo por alguma coisa é uma dependência. Então, no processo de conseguirmos o que queremos, principalmente quando ele é materializado por nós mesmos, tornamo-nos completamente fechados e nos sentimos subjugados a essa manifestação, cuja energia será aplicada sobre nós no futuro (algumas pessoas chamam isso de “karma”).
A busca é quase sempre uma forma de tensão. Ela está relacionada à nossa insatisfação com o que está acontecendo atualmente, e ao nosso desejo de mudar essas circunstâncias. O problema com esse processo é que ele reduz muito nossa percepção e, por si só, é algum tipo de recusa em aceitar a realidade em sua forma atual.
Isso significa que não conhecemos bem esta realidade. E, embora queiramos ir mais longe, não estamos realmente seguros de onde estamos agora – e essa é uma das razões de nossa perambulação entre aquelas decisões que outros dizem que podem nos oferecer.
E, assim, demonstramos a tendência de fazer da busca um processo meramente externo e de nos privarmos da capacidade de auto-observação e consciência – o que é essencial para trilharmos nosso caminho.
A indagação “O que estamos buscando?” nos oferece formas prontas e visíveis. A pergunta “por quê?” já sugere muito mais pesquisa. E essa pesquisa não diz respeito a um objeto específico de nossa busca, mas equivale a “Por que motivo estamos buscando, de fato?”.
Parece que há algo dentro de nós que sugere que tudo pode ser muito diferente. E parece que isso está em cada um de nós – uma fonte primária de nosso anseio por algo melhor. No entanto, ao invés de deixarmos esse puro anseio evoluir, usurpamos seu impulso primário e só o aproveitamos novamente acondicionados por nossas ideias e intenções pessoais. No entanto, as pessoas que percebem esse impulso ressoar com mais clareza, dirigem sua busca, suas ideias, para algo não transitório e universal.
Por um lado, é claro que nossos conceitos de Absoluto não alcançam o Absoluto em si. Por outro lado, qualquer busca por tais valores representa um egocentrismo terrivelmente aguçado e uma demonstração de nossa insondável cobiça. Estamos tentando obter tal Absoluto para nós mesmos – o que só prova a natureza relativa e limitada de nossas ideias a esse respeito.
Entretanto, se conseguirmos acrescentar uma dimensão extra a essa busca, poderemos confirmar que não há como esse ser buscador apressado e inquieto aproximar-se da profunda paz da perfeição.
O universal é universal precisamente porque está sempre em toda parte. Nossas mãos mortais não são capazes de agarrar o imperecível. Tomar consciência de nossa incapacidade pessoal é provavelmente o passo mais importante em nosso caminho, porque, quando o aceitarmos, isso causará uma espécie de avanço em nossa psique fechada. Como resultado, a pessoa desenvolve abertura para tudo e todos. No Oriente, essa abertura é chamada de “atenção”. Com essa atenção começamos a perceber a presença de todos à nossa volta.
Quando não interferimos nas coisas com nossas exigências, acontece que elas têm muito a nos dizer. E isso não é para nós mesmos, porque tudo é interação, compartilhamento. Conhecer e não interferir com essa naturalidade é, na verdade, fazer uma descoberta. E podemos dizer que essa é uma oitava nova e desconhecida de busca, que, com razão, podemos chamar também de um transcender da consciência.
A partir desse ponto, segue-se um processo natural, que – sem ferir o potencial em nós e em tudo o que tem nossas limitações pessoais – podemos observar e participar de seu desdobramento, e nos permitir sermos descobertos pela realidade superior.