O poder da semente pequenina

The tiny little thing, which is invisible, is the driving force of everything

O poder da semente pequenina

Há uma velha narrativa de sabedoria indiana nos Upanishades, que diz:

“Traga-me daí um fruto da árvore Nyagrodha.”. “Aqui está um, senhor.”. “Quebre.”. “Está quebrado, senhor.”. “O que está vendo?”. “Essas sementes, quase infinitesimais.”. “Quebre uma delas.”. “Está quebrada, senhor.”. “O que você está vendo?”. “Nada, senhor.”.

O pai disse: “Meu filho, aquela essência sutil que você não percebe, é a partir dessa mesma essência que esta grande árvore Nyagrodha existe.”.

“Acredite, meu filho. Aquilo que é a essência sutil em tudo o que existe tem seu eu. É a Verdade. É o Ser. E você, Svetaketu, você é. “.Müller, F. Max (translation): The sacred books of the East, vol. I, The Upanishads, 1879, Chandogya Upanishad VI, 12.

“Ele é meu ser no interior de meu coração: é menor que um grão de arroz, menor que um grão de cevada, menor que um grão de mostarda, menor que um grão de alpiste ou do tamanho de um. Ele também é meu Ser no interior de meu coração: maior do que a terra, maior do que o céu, maior do que o paraíso, maior do que todos esses mundos.”.Ibidem, Chandogya Upanishad III, 14.3.

 

Sim, essa pequenina e invisível é o que move tudo. Essa pequenina é eterna e transcende as percepções temporais de nossa personalidade, que determinam nossa realidade cotidiana. Dentro dessa pequenina, há uma força nuclear que também pode se dividir e espalhar ondas.

Quando tocamos essa coisinha minúscula, ou melhor, quando nos recolhemos para dentro e deixamos que ela nos toque, seu minúsculo núcleo se ativa e irradia uma atmosfera ao nosso redor, que afeta imediatamente nosso campo respiratório e nos tira de nossas preocupações, medos e ansiedades, de nossos desejos e demandas, de nossos pensamentos usuais e de nossa maneira usual de pensar, e simplesmente nos afasta de todas as nossas reações. O aquecimento desse minúsculo núcleo pode transformar gradativamente toda a essência humana, no nível do espírito, da alma e do corpo. Na verdade, é uma reação nuclear que envolve gradualmente fissão, ignição e propagação em ondas de frequência que vão se espalhando por todo o sistema. É uma cascata de choques eletromagnéticos. E isso também é chamado de caminho místico espiritual.

Essa pequenina contém um enorme poder e luz, porque é o poder do princípio e da Luz que estava no princípio (como no Evangelho de João). Ela é, como está escrito nos Upanishades, a força a partir da qual cresce uma árvore incrivelmente gigante.

A imagem da árvore aparece com frequência em textos espirituais (também na Bíblia ou em Comenius e outros) para descrever a vida de uma pessoa ou comunidade ou simplesmente a vida em si mesma, como uma organização e uma matriz.

Jan van Rijckenborgh também escreve sobre a semente perecível e imperecível no livro A Gnosis em sua atual manifestação:

A semente denominada imperecível, que podemos utilizar para o nascimento da luz de Deus, é a semente da Rosa do Coração. Esta é uma erótica totalmente nova. É a erótica que Platão designa por Eros. […] A semente que podemos empregar para esse nascimento é a semente da Rosa do Coração. Essa semente não se origina da natureza. É impossível que a semente da natureza possa ser utilizada para o nascimento da luz de Deus. […] A Gnosis trabalha com outra força criadora, muito pura, que podemos liberar, sim, temos de liberar, no caminho de retorno: o potencial criativo da Rosa. Para esse fim, devem ser realizadas as núpcias entre a alma e a Rosa do Coração.Rijckenborgh, Jan van: A Gnosis em sua atual manifestação Rosacruz Áurea – São Paulo-SP – Brasil 1ª edição 1984, p. 252.

A partir de um núcleo invisível, cresceu uma árvore enorme. Esse núcleo é o princípio da criação sagrada. Vocês também podem ter se perguntado se existe o puro poder criativo. Podem ter se perguntado sobre a conhecida força criativa natural, que tem uma forma diferente e cria um impulso incrível no ser humano. Muitas vezes podem descobri-la como um estímulo para muitas de nossas atividades normais. E, se derem uma olhada mais de perto, também podem ver que toda vida natural vem da semente natural.

E só pelo “fruto” podemos distinguir bem duas ordens naturais diferentes: a divina e a natural. Nenhuma delas é ruim. Afinal, o amor e a vida dos seres humanos são grandes dádivas. Aquilo que é humano, temporariamente emergencial, é uma ferramenta muito importante, quando observada a partir da perspectiva da ordem divina e eterna. Mas nenhum cultivo de semente natural produzirá uma rosa divina.

E, quando estamos repletos das frutas comuns do reino natural, quando experimentamos algo agradável ou desagradável, nunca devemos nos esquecer de que, por trás de tudo, está oculta a minúscula, invisível e muitas vezes esquecida semente da eternidade, que inclui todas as nossas vidas e encarnações do microcosmo. Porque ela é simplesmente aquela árvore enorme. Então, podemos sentir alívio – como na Bíblia, quando Jesus nos diz para irmos até ele quando estivermos sobrecarregados, porque o fardo dele não é pesado, mas sim leve. Essa árvore divina da criação tem um número enorme de galhos e moradas – então, você não vai ficar sozinho nem sem alimento.

E, no final, a partir dessa semente pequenina, o ser humano tem o potencial de construir um templo e uma escola espiritual no interior de seu próprio corpo e microcosmo. É claro que não fará isso sozinho, porque, além do potencial da semente espiritual, ele possui apenas e predominantemente forças naturais. É por isso que existem núcleos espirituais plenos de energia, como as escolas espirituais e a corrente de fraternidades.

No livro A Fraternidade de Shamballa, Jan van Rijckenborgh afirma: 

A atividade da Fraternidade no santuário do coração é indicada como o desenvolvimento místico; o trabalho no santuário da cabeça, como o desenvolvimento mágico; a ciência mediante a qual esses trabalhos são realizados é denominada a Arte Real; e a força pela qual se exerce essa arte é a sabedoria divina, o fruto da árvore da vida.

Essa graça divina é para todos os que, abalados em seu eu, anseiam por despedir-se de sua comida de porcos e retornar à pátria perdida.

[…] Tendes de fazer de vosso corpo, de vossa personalidade, um templo em vosso próprio microcosmo. […] Quando o homem que busca se torna, desse modo, um membro genuíno da Igreja Universal, portanto, um verdadeiro discípulo da Fraternidade Universal, em dado momento entra em ligação com a verdadeira Arte Real, penetra até a ciência do ritmo da árvore da vida. Quem tiver ouvidos para ouvir, que ouça! Nesse ritmo, ele se torna um rebento da árvore da vida, mergulha no abismo do conhecimento, e encontra-se na senda do serviço, em conjunto com os demais.Rijckenborgh, Jan van, Petri, Catharose de: A Fraternidade de Shamballa Editora Rosacruz – Jarinu-SP – Brasil pp. 68-69.

Sim, por isso também reconhecemos que, como pessoas naturais, vivemos da árvore do conhecimento do bem e do mal, da ordem dialética. Se vocês encontrarem em seu interior a pequenina semente da eternidade, como uma constante imutável, no crescente desejo de libertação desta semente, ela começará a germinar, crescendo da água e do espírito até o galho mais alto da árvore da vida.

À medida que a semente vai crescendo, a próxima etapa de seu trabalho e ação começa.

Que, assim, o trabalho na vinha de Deus possa ser constantemente renovado!

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Informação sobre o artigo

Data da publicação: dezembro 10, 2020
Autor: Olga Rosenkranzová (Czech Republic)
Foto: Susann Mielke via Pixabay

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