A série alemã Dark começa com esta citação de Einstein e prepara o espectador para uma experiência inusitada de viagem no tempo e mundos paralelos. A voz em off adverte:
Acreditamos que o tempo corre de forma linear. Que ele avança uniformemente, para sempre, até o infinito. Mas a diferença entre passado, presente e futuro não passa de uma ilusão. O ontem, o hoje e o amanhã não são consecutivos, mas estão conectados em um círculo infinito. Tudo está conectado.
Mas Dark não é uma iniciativa isolada de desenvolver essas ideias. Sempre houve cineastas bastante interessados nesses temas. No início, em meio a cenários toscos, surgia a “Máquina do Tempo”, uma geringonça onde o personagem entrava e saía rodopiando rumo a sabe-se lá pra onde.
Mas agora, mais do que nunca, os filmes e séries estão entrando em tantos detalhes verossímeis, cheios de tecnologia e conceitos científicos, que o recado está chegando cada vez mais forte: somos seres do tempo e vivemos enclausurados em nossos mundos!
Sim. Se vocês observarem, verão que os personagens têm sua própria linha temporal e pensam, sentem e agem de acordo com seu próprio mundinho. Por isso, entram em conflito com os outros, desconfiados de que alguém os está perseguindo. Cada um sente que está do lado do Bem e que os outros podem ser o grande Demônio do Mal. A tensão vai se acumulando até um nível quase insuportável, até explodir na ameaça do apocalipse planetário!
O enredo quase se desfaz, o que explica por que o tempo dos filmes é fragmentado por inúmeros flash backs, mas também desliza como uma teia fantástica para futuros possíveis, de acordo com a trama gerada pela ação dramática das relações entre os diversos grupos.
Conforme os filmes vão se desenrolando, todos ficam perdidos: nós, espectadores, por já não conseguirmos guardar os nomes de todos os personagens; e os próprios personagens, por se encontrarem (às vezes literalmente!) nos diversos patamares e labirintos do tempo.
Nomes, lugares, relações, tudo se torna relativo. Nessa maratona de tantos ires e vires, cada personagem acaba se perguntando: afinal, quem sou eu? Qual é o tempo que me define? Qual é a verdadeira relação que eu tenho com meus amigos, família, vizinhos, colegas de escola e de trabalho? E, por fim, já cansados de lutar contra o tempo, encolhidos cada qual em seu mundinho, eles percebem que a união de todos para um objetivo comum poderá libertá-los dessa rede de ilusões. Então, passam das elocubrações mentais e batalhas emocionais para a ação concreta, no aqui e agora.
Para nós, espectadores, resta estudar a metáfora que se apresenta como lição de vida. Somos personagens, atuamos em várias frentes, vestimos os papéis sociais como roupas escolhidas por outros. Mas, e o ser verdadeiro, por detrás de tudo isso? Como alcançá-lo? Quando conseguiremos ter consciência desse ser verdadeiro?
Esse é um processo que precisamos começar já! E os passos do caminho já foram apontados pelas escolas iniciáticas de todos os tempos: discernimento, anseio pela salvação, autorrendição, nova atitude de vida e transfiguração. Esse é o caminho da nova consciência, que começa com o autoconhecimento (somos seres cósmicos), passa pelo desejo de libertação de todos os nossos laços culturais (somos seres que se renovam a cada dia), e, de repente, nos vemos não mais à deriva, mas com um objetivo único, tranquilos, levados pela correnteza da vida (como quem se entrega totalmente à força da energia original que nos criou). Esse objetivo é a realização do verdadeiro ser. Então, nossa atitude de vida passa a ser a de quem vê o mundo e os seres pela primeira vez a cada dia – sem as amarras dos comportamentos, opiniões e crenças culturais. esses são os sinais da transfiguração, o surgimento de um ser que está além do ser comum.
Mas o que queremos dizer com “transfigurados”? Significa que, depois sermos transformados totalmente, em nossa estrutura corporal, vital, emocional, mental, já não seremos apenas um personagem à deriva, mas sim um ser realmente vivificado: o verdadeiro protagonista desse magnífico processo – um ser totalmente novo em termos de vontade, amor, inteligência, harmonia, sabedoria, dedicação e, consequentemente, em ação.
Para esse ser, espaço e tempo – que foram as ferramentas de autoconhecimento para o personagem viajante – já não são limitações. Sua ligação com os demais seres do universo foi totalmente unificada. Já não se trata de um simples indivíduo, mas de uma energia multifacetada, em permanente união com a fonte original de todos os seres.
A sabedoria universal sempre deu pistas sobre esse processo de transfiguração dos seres-viajantes que se tornam seres imortais. Muitos filósofos, cientistas, religiosos, artistas e pensadores, desde o início do tempo-espaço fazem referência a várias dimensões que relativizam o que está fora ou dentro de nós, assim como o que está acima ou abaixo de nossa consciência. Somos todos, pequenos ou grandes, personagens viajantes em busca de nossas origens eternas, no sem-tempo e sem-lugar.
Entre todos os autores que desenvolveram essa ideia, destacamos Catharose de Petri, fundadora da Escola Espiritual da Rosacruz Áurea. Em seu livro “O Verbo Vivente”, ela comenta que essa “viagem entre as várias dimensões” é possível e necessária para que o ser humano possa obter autoconhecimento, transformar-se, transmutar-se e transfigurar-se. Ela afirma:
A quarta dimensão é apenas a porta para a quinta, a sexta e a sétima dimensões. (…) O ser humano é onipresente, porém, não tem consciência disso. (…) A intuição é a porta para isso. A nova visão é a primeira realização da quarta dimensão.
Fique atento. A partir de um simples filme ou série, você pode tomar consciência de sua essência e tomar decisões efetivas para que essa transformação estrutural de seu ser se realize.
Assim, como estado de consciência é estado de vida, confiamos que, para além de todos os sentimentos conflitantes, de todas as repetições automáticas do dia-a-dia, de todas as expectativas que se acumulam no tempo, podemos, sim, abrir uma brecha para o Não-Tempo, arregaçar as mangas e sair, juntos, de nossos mundinhos rumo a uma dimensão muito maior, cheia de plenitude: a Eternidade, sem começo nem fim.