Um Cavalo Alado Voa no Espaço Dentro de Mim

Um Cavalo Alado Voa no Espaço Dentro de Mim

Pégaso é um cavalo alado divino, branco como a neve, uma das criaturas mais famosas da mitologia grega.

Quando eu era jovem, costumava pendurar pôsteres nas paredes do meu quarto com cavalos correndo em direção ao azul. Por que cavalos? Independentemente de culturas, épocas e continentes, no inconsciente humano coletivo o cavalo é um animal carregado de simbolismo e significado. É representado na arte desde a pré-história.

Os cavalos dos mitos, lendas e contos são capazes de falar e ensinar, de cruzar os ares, como Pégaso, ou de ir até os portões do Paraíso, como a égua Buraq, que carregou o Profeta Maomé em sua viagem noturna a Jerusalém. Conseguem acompanhar o sol em seu curso, como o garanhão turquesa dos índios navajos, ou combinar conhecimento instintivo e inteligência humana, como o centauro Quíron, mestre de Esculápio e deus da cura e da medicina na mitologia grega.

Companheiros dos deuses, os cavalos acompanham o Sol em sua corrida diária da Grécia até os mitos gnósticos de Abraxas, e também nas culturas ameríndias… E cavalos também acompanham os seres humanos em suas viagens. Capazes de viajar entre mundos, levam o homem para além do céu e do inferno e os trazem de volta sãos e salvos. Atravessam as profundezas escuras do inconsciente humano. No fundo dos oceanos, os cavalos mágicos de Netuno são aqueles que ainda não se manifestaram e não têm forma.

No mundo de hoje nós não precisamos mais de cavalos porque carros, aviões, barcos e trens fornecem todo o transporte que precisamos. A força física do cavalo não é mais necessária para nós. No entanto, o número de proprietários de cavalos é muito alto em todos os países industrializados.

Por que isso acontece? Porque precisamos criar um relacionamento e, às vezes, nos reconectar com a natureza e com os animais ao nosso redor. O cavalo em nós é também a criança interior.

Pégaso, o mensageiro dos deuses

Pégaso, o mensageiro dos deuses, é, sem dúvida, o arquétipo mais famoso desse universo lendário. Ele é um cavalo alado divino, branco como a neve, uma das criaturas mais famosas da mitologia grega. É personagem de uma história iniciática tão rica em símbolos e ensinamentos que poderíamos meditar sobre ela por dias a fio.

Isso porque, como muitos mitos gregos, esta história é profundamente simbólica.

Tudo começou quando Poseidon, um dos principais deuses do Olimpo, transformou-se em um cavalo e nele levou a bela Medusa, moradora do oceano por quem estava apaixonado, até um templo dedicado a Atena. Lá, eles se uniram e ela engravidou. No entanto, por terem profanado o templo puro de Atena, Medusa foi transformada em uma criatura horrível, a Górgona. Seu magnífico cabelo foi transformado em uma coroa de cobras venenosas. Além disso, foi lançada uma maldição sobre Medusa: seu olhar petrificaria qualquer um para quem ela olhasse.

Mas o herói Perseu, filho de Zeus, o grande deus, fez um plano para livrar o mundo de Medusa. Em apoio, Atena lhe emprestou seu escudo e Hermes deu a ele uma foice afiada e uma bolsa de couro para esconder a cabeça da Medusa.

Com cautela, Perseu aproximou-se de Medusa olhando para o reflexo dela no escudo de bronze emprestado por Atena. Quando ele conseguiu cortar a cabeça da Medusa, os dois filhos de Poseidon com ela foram libertados e o sangue jorrou de seu pescoço. O cavalo Pégaso e seu irmão Crisaor nasceram do sangue de Medusa.

A cabeça de Medusa foi entregue por Perseu a Atena, que a colocou no centro de seu escudo.
Como muitos mitos gregos, essa história é profundamente simbólica. Perseu representa o herói em nós, o buscador da Verdade que está pronto para enfrentar todos os perigos para transformar o mundo. Porém, até mesmo um herói não pode fazer nada sozinho, já que Medusa representa tudo o que o passado construiu dentro de nós, é a guardiã do limiar, todas as concepções mentais que nos paralisam se olharmos para elas. É por isso que a deusa Atena, a pureza virginal do novo pensamento, deu a Perseu um escudo, o escudo de um estado interior próprio que lhe permitiu enfrentar Medusa e derrotá-la.

Quem é Medusa realmente? Medusa é um ser duplo, cujo nome significa “aquela que protege”. Medusa, uma mulher belíssima, era originalmente a força do olhar que envolve com o seu amor e protege o que vê. Foi transformada em um ser monstruoso e maligno, cujo olhar petrifica. Sua beleza e seus cabelos magníficos, seu rosto amigável, seu olhar vivo e sedutor, tudo isso se transformou em uma terrível maldição. Ver a horrível Medusa significa ser petrificado pelo horror e morrer.

Perseu representa a intenção daquele que decidiu seguir o caminho da iniciação. O primeiro passo de sua jornada heróica será confrontar-se com a realidade do estado mental e emocional da humanidade. A vida interior dos seres humanos é dupla: contém ideais elevados, beleza, visão clara e vontade de melhorar, mas também abriga baixeza, paixões, medo e horror. O herói deve lutar contra o espírito do mundo, que tenta paralisar seu ser e reabsorvê-lo na atmosfera mundana.

Foi dito: “Aquele que viu a Medusa face a face deve morrer”. Sustentar, em sua verdade nua e crua, a visão do estado decaído, a visão da cultura dual do homem e seus resultados que remontam a eras, significa a morte absoluta para todo o ser da natureza.

Enfrentando a Medusa com o escudo de Atena e a foice de Hermes, basta uma fração de segundo para o herói ser libertado. O símbolo dessa vitória, a cabeça da Medusa, estará protegido na bolsa de couro de Hermes, e essa bolsa “Hermes” simboliza uma nova maneira de pensar. Então, o sinal da vitória, a cabeça da Medusa, será colocada no centro do escudo de Atena, onde ainda pode ser vista atualmente, por exemplo, no Museu do Louvre, como um sinal de que a pureza e a verdade sempre triunfam.

Pégaso, nascido do sangue da Górgona quando Perseu a decapitou, ascendeu ao céu após seu nascimento e se colocou a serviço de Zeus, que o encarregou de trazer raios e trovões ao Olimpo.

Amigo das musas, acostumado a viajar entre o mundo dos humanos e o mundo dos deuses, Pégaso fez brotar com um coice a fonte de Hipocrene, de inspiração poética. Ele se tornou, no mundo dos mitos, o mensageiro dos deuses, um mensageiro que ainda hoje aparece para aqueles que querem chegar às portas do reino divino.

Muitas pessoas queriam domar o cavalo alado, para que também pudessem ter acesso aos segredos divinos. Um exemplo é o príncipe Belerofonte. Apesar de toda a sua astúcia, juventude e vivacidade, ele não conseguia. Pégaso escapava para o ar. A história nos conta que, certa noite, Atena apareceu para ele em um sonho e lhe deu um freio de ouro, o único capaz de domar o flamejante cavalo alado.

Capturado graças ao freio dourado de Atena, Pégaso permitiu que Belerofonte o montasse para derrotar outro monstro que estava devastando o país, a Quimera, e realizou muitas façanhas com seu cavaleiro. Mas o príncipe foi vítima de seu orgulho. Tentou, com sua montaria, subir ao topo do Olimpo e se tornar igual a Zeus, o mestre dos deuses. Porém Zeus enviou uma mosca que picou Pégaso e fez com que ele se desviasse e derrubasse o cavaleiro. Belerofonte quebrou a coluna, ficou paralisado e nunca mais pôde cavalgar.

Pégaso recuperou sua liberdade e cavalgou até o azul, até desaparecer. Ele encontrou Zeus, que lhe confiou a missão de levar luz à Terra.

Assim, Pégaso tornou-se o mensageiro dos deuses, trazendo aos seres humanos a mensagem mais preciosa de todo caminho espiritual: humildade. “O maior conhecimento é que eu não sei nada e que eu não sou nada”.

Zeus acabou transformando o cavalo alado em uma constelação e o colocou no céu, onde permanece até hoje.

Pégaso voa livremente entre as estrelas. Ao planar em seu dorso, aprende-se o que é a verdadeira liberdade: a responsabilidade ao fazer escolhas internas. Pégaso lembra que você está sempre conectado com a alma. Liberdade é ouvir, no vento sibilante das asas de Pégaso, um sussurro quase imperceptível: a voz de sua própria alma.

Referências:
De Petri, Catarose: A Rosa-Cruz Dourada, Capítulo XI, edições de setembro.
Bettelheim, Bruno: Psicanálise dos contos de fadas, Pocket, 1999, pp. 90-91
Franchet d’Espèrey, Patrice: A mão do mestre: reflexões sobre a herança equestre, Odile Jacob, 2007.
Jung, Carl Gustav, Metamorfose da Alma e seus Símbolos, Georg, 1993
Jung, Emma e von Franz, Marie-Louise: A Lenda do Graal, Paris, Albin Michel, 1988, pp. 214-215

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Informação sobre o artigo

Data da publicação: junho 25, 2025
Autor: Sylvain Gillier-Imbs (France)
Foto: AndreyC on Pixabay CCO

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