Sobre Morrer à Margem do Tempo – Parte 4

Minha vida sempre vai me levando, atravessando os limiares – e, finalmente, atravessamos o último.

Sobre Morrer à Margem do Tempo – Parte 4

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Estes textos foram usados como podcasts sobre a morte (em alemão), com menos de uma hora de duração no total. Isso não é suficiente para desenvolver este assunto, mas ainda assim é tempo mais do que suficiente para alguém se deixar tocar por ele. E era isso o que queríamos: criar uma possibilidade de sermos tocados e nos deixarmos levar até esse limiar, a esse portal, para nos abrirmos para seu mistério.

A qualquer momento, no aqui e agora, podemos experimentar um misterioso processo de mudança: um morrer e nascer de novo diariamente.

Ou, parafraseando uma citação de Angelus Silesius, poderíamos dizer:

“Aquele que morre antes de morrer,

não morrerá quando morrer”.

Esse “morrer antes de morrermos” é algo que podemos aprender. É a característica de um caminho espiritual libertador. Conhecemos esse “crescer, florescer e morrer” de todas as coisas na Terra, e isso acontece sempre. É um ciclo, com certeza – e ainda assim é também uma roda da vida, um grande conjunto maravilhoso no qual os humanos têm seu lugar. E no qual lhes é dada a oportunidade de crescer não apenas externamente, mas, sobretudo, em seu ser interior.

Além disso, o caminho que nos liberta desse ciclo é maravilhoso. Podemos considerar a roda da vida a partir de uma metaperspectiva, porque no interior de nosso ser existe um princípio espiritual cuja origem está além do tempo. No decorrer de nossa vida e através de muitas experiências, nossa consciência vai crescendo e temos a oportunidade de entrar em contato com esse princípio eterno.

Isso dá à morte um novo significado e uma nova dimensão. Dentro de nós, à medida que a consciência vai crescendo, também vai crescendo a certeza de que existe uma continuidade do ser que vai muito além do que nós: é isto que sentimos como vida.

O poeta Novalis nos diz:

“Para onde estamos indo?

Para sempre, para casa”.

Assim, mais tranquilo, posso continuar meu caminho, cheio de alegria e me sentindo livre. Minha vida sempre vai me levando, atravessando os limiares – e, finalmente, atravessamos o último. Posso dar esse último passo com total confiança, sabendo que estamos seguros e protegidos como parte da eterna corrente da vida e da consciência.

 

Outono

As folhas estão caindo, caindo

como se fosse de longe,

como se jardins distantes

murchassem nos céus:

elas caem com um gesto de negação.

 

E à noite a terra pesada cai

de todas as estrelas para a solidão.

 

Todos nós caímos. Esta mão cai.

E olhe para os outros: isso acontece com tudo e com todos.

 

E, no entanto,

ainda há Alguém que segura essa queda

Infinitamente,

Suavemente,

em suas mãos.

                   Rainer Maria Rilke

 

 

 

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Informação sobre o artigo

Data da publicação: abril 25, 2021
Autor: Isabel Lehnen und Peri Schmelzer (Germany)
Foto: Hier und jetzt endet leider meine Reise auf Pixabay CCO

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