“Quem sou eu?”, perguntou o vaso.
O vaso era lindo, lindamente moldado pelo oleiro e sua decoração era deslumbrante e única.
“Eu sou o barro?”, perguntou o vaso, mas logo percebeu que o barro não poderia ser toda a
realidade.
Afinal, qualquer outra coisa poderia ter sido feita a partir do barro.
“Eu sou minha aparência?”. perguntou o vaso, mas lembrou-se que seu exterior nada sabia do
seu interior.
“Eu sou o conteúdo?”. perguntou o vaso, mas lembrou-se que poderia ter feito a mesma
pergunta se houvesse água no vaso, mesmo que ela transbordasse.
“Eu sou o espaço vazio envolvido por minha forma?”, perguntou o vaso. Mas não posso ser o
espaço interno separado do externo, pois minhas superfícies tocam ao mesmo tempo o que
está dentro e o que está fora.
“Eu seria minha forma?”, perguntou o vaso.
Mas se eu fosse a forma, quem perguntaria isso? Quem poderia ver a forma por fora e por
dentro?
“Quem sou eu?”, pergunta o vaso, ao cair no chão, quebrando-se em inúmeros pedaços.
“Quem sou eu?”, pergunta o vaso, enquanto a mão do oleiro pega de novo no barro que gira,
moldando-o por fora e por dentro com suas mãos.
“Quem sou eu?”, Eu pergunto.