Jornada nas Estrelas: Aspirando em Direção ao Outro – Parte 1

Go boldly where no one has gone before

Jornada nas Estrelas: Aspirando em Direção ao Outro – Parte 1

“Estas são as viagens da nave estelar Enterprise, em sua missão contínua de explorar novos mundos, encontrar novas vidas e novas civilizações. Ir corajosamente aonde ninguém foi antes.”

– dos créditos de abertura de Jornada nas Estrelas: A Nova Geração

E vi um novo céu e uma nova terra. – Apocalipse 21.1

Parte Um: O Fenômeno

No final de 2016, a série de ficção científica Jornada nas Estrelas (Star Trek) comemorou seu 50º aniversário. Esta série foi concebida originalmente como uma espécie de “faroeste especial”, pelo seu criador Gene Roddenberry. Entretanto, ela foi muito além de inúmeros programas de TV e filmes de cinema. Jornada nas Estrelas se tornou um dos impulsos culturais mais influentes das últimas décadas. O robusto Capitão Kirk, o analítico Primeiro Oficial Spock, o temperamental Dr. “Bones” McCoy e muitos outros tornaram-se ícones da cultura popular – conforme evidenciam gerações de fãs em todo o mundo e camisetas com slogans como “Tudo o que preciso saber sobre a vida eu aprendi com Jornada nas Estrelas.”

Inicialmente, no entanto, todo este sucesso não era esperado de modo algum. Lançado em 1966, com um orçamento limitado (tão evidente nos cenários, maquiagem e efeitos especiais que se tornou sua marca registrada), o programa rapidamente ganhou um público fiel, mas pequeno. Quando foi cancelado após três temporadas devido a índices de audiência insatisfatórios, as frequentes retransmissões em TV, exibições privadas e convenções de fãs tornaram-se um fenômeno cult. A lealdade persistente dos fãs acabou por compensar: após uma sequência em animação ir ao ar em 1972/73, seis filmes foram produzidos de 1979 a 1991, seguidos por mais quatro séries de TV de 1987 a 2005 e outros quatro filmes até 2002. Desde 2009, uma reedição completa foi iniciada com três filmes até agora, cujas histórias se passam em uma linha de tempo alternativa, recontando as aventuras da primeira geração com jovens atores interpretando os personagens reverenciados de antigamente. Por fim, a última série spin-off, intitulada Star Trek: Discovery, foi lançada em setembro de 2017.

A série original é frequentemente ridicularizada por seus cenários “bregas” e sua maquiagem rudimentar, a qual supostamente transformava os atores em alienígenas exóticos. Mas esta crítica está ocupada demais consigo mesma para ser verdadeira. Jornada nas Estrelas nunca pretendeu descrever uma sociedade tecnologicamente avançada do futuro o mais “realisticamente” possível. Os cenários, figurinos etc, somente forneciam o contexto para os constantes e profundos questionamentos filosóficos que o programa proporciona.

Embora apoiado fortemente em sua estrutura pseudocientífica (ao contrário de Star Wars, que tem raízes em arquétipos fabulosos), Jornada nas Estrelas visa principalmente os corações, o idealismo e a empatia dos telespectadores (assim como Star Wars, pelo menos a trilogia original, que faz isso tão amavelmente). O público é envolvido em suas próprias emoções, aspirações e esperanças – perdoando os furos da história, as cadeias de eventos fantásticas e as maquiagens engraçadas. Ao contrário do que os cínicos afirmam, o sucesso contínuo de Jornada nas Estrelas ao longo de cinco décadas não comprova a ingenuidade do público, mas sim um anseio humano universal por uma vida não sobrecarregada pelas imperfeições tão conhecidas. Trata-se da visão de uma realidade melhor, em vez de mero escapismo.

Lançado no auge da guerra fria, Jornada nas Estrelas se baseia inicialmente na tensão entre a ansiedade em relação ao presente e a esperança no futuro. Isso é ilustrado pelas configurações das naves. As naves estelares empregadas pela Federação dos Planetas Unidos apresentam uma grande variedade de tipos e tamanhos, mas todas elas compartilham do mesmo design básico: o casco secundário relativamente pequeno do qual brota uma haste que, por sua vez, comporta a seção circular. Esta parte proeminente da nave abriga a ponte de comando (mente), as cabines da tripulação (alma), os sensores (percepção), e o armamento (vontade). Seu formato em forma de disco lembra os “discos voadores” cujos avistamentos reportam à esperança de vida extraterrestre e coexistência pacífica: a projeção da esperança por um “outro” externo para remediar nossa própria imperfeição.

O casco secundário não apenas carrega a seção circular, mas também abriga a sala de máquinas (o cérebro biológico da barriga), o hangar, e o “coração” da nave: o reator principal denominado “núcleo de dobra espacial”, a fonte de energia da nave. No núcleo, em virtude do elemento fictício “Dilithium”, matéria e antimatéria se neutralizam mutuamente, liberando a quantidade inconcebível de energia necessária para propulsão interestelar e alimentação dos sistemas da nave. Fiel ao famoso ditado de Arthur C. Clarke de que “qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível da magia”, estas tecnologias praticamente anulam as limitações cotidianas dos séculos XXIII e XXIV. Em uma parte posterior do artigo, examinaremos as três tecnologias principais: dobra espacial, teletransportadores e replicadores.

Na frente do casco secundário (onde o plexo solar deve estar), está localizado o defletor navegacional. Ele projeta um campo de força que empurra os obstáculos para fora da trajetória da nave. E, é claro, a nave também é equipada com escudos de energia protetores em torno dela, como uma esfera invisível capaz de evitar ataques externos – a menos que os níveis de energia diminuam, ou o inimigo saiba a frequência de modulação dos escudos para se adaptar.

Da extremidade posterior do casco secundário se projetam para fora duas hastes, que carregavam os propulsores de dobra espacial. Estes, juntos com o núcleo de dobra espacial, formam o sistema de propulsão principal que capacitava a nave a atravessar distâncias interestelares em questão de horas ou dias. O formato básico dos propulsores é um cilindro liso com uma extremidade dianteira pontiaguda. Em outras palavras: eles se assemelham aos foguetes de hoje em dia. Quando são utilizados em mísseis intercontinentais com ogivas nucleares, eles representam a destruição desta era. Quando foram empregados nas missões Apolo, Gemini e Mercury, transportando seres humanos para a órbita da Terra e até para a Lua, eles representam o auge da engenhosidade científica e de um ousado espírito pioneiro.

O design da nave combina um símbolo de aspiração cheia de esperança em direção ao outro e um símbolo de ingenuidade humana, mas também uma engenharia sofisticada e destrutiva, e uma capacidade física incomparável. Assim, ela combina os dois lados da existência humana (animal e espiritual), e o próprio princípio de nosso universo (o jogo sempre cambiante dos opostos complementares) é sua fonte de energia quase inesgotável. Ela é, portanto, o veículo perfeito para seguir o princípio de Jornada nas Estrelas: Ir corajosamente aonde ninguém foi antes.

Em nosso contexto de filosofia espiritual, essa ousada jornada é considerada uma metáfora para a jornada individual nas dimensões internas do infinito divino, em vez da história de uma viagem para a vastidão do espaço exterior.

(Continua)

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Informação sobre o artigo

Data da publicação: junho 29, 2018
Autor: Thomas Schmidt (Germany)
Foto: Pixabay CCO

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