Dar à Luz uma Estrela

Se você deseja ardentemente atingir o fundo do fundo do fundo de si mesmo, não chegará nesse lugar pegando o próximo voo ou seguindo por uma estrada asfaltada. Nada disso. O caminho é outro.

Dar à Luz uma Estrela

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A gente caminha pela vida em cama elástica. É assim mesmo: não há jeito de viver sem cair, levantar-se, equilibrar-se e seguir. As coisas não têm sossego – são um vai e vem trôpego. Mãos ora se apertam, ora apertam gatilhos. Às vezes queremos mais e em outras nada nos falta. No amor nos sentimos inteiros e logo a seguir, incompletos. Problemas nos incomodam como um enxame de insetos, mas igualmente emoções positivas e sonhos nos tiram dos eixos.

Apesar do sobe e desce desse caminho de surpresas, seguimos acreditando em um piso firme e definitivo, uma vida eternamente bela, clara, serena e feliz. Sonhamos com um lugar onde nossas incertezas e conflitos cessam por completo.

Por que parece senso comum que esse lugar existe?

Ao longo dos tempos, foi sendo criada a imagem do lugar ideal como se houvesse um paraíso que possa ser achado no mapa. Esse paraíso está em cartazes, revistas, nas telas com praias de areia branca e mar azul. No entanto, parafraseando o poeta Drummond [1], ficamos sem saber se esse endereço existe “de se pegar”.

Que existe, é certo, mas trata-se do oposto da imagem glamourosa de eternas férias. Tem a simplicidade e o acolhimento de uma vila, vila infinita, radicalmente diferente em tudo, radiante, para ser vivida no dia-a-dia. A chave para estar ali é um desejo ardente de atingir o fundo do fundo do fundo de si mesmo. Ali se apazigua o conflito profundo que carregamos no íntimo, o nosso caos particular.

No entanto, não pense que você chegará nela pelo próximo voo nem por uma estrada asfaltada. Nada disso. Será preciso seguir pelo caminho das estrelas – e ele é ainda mais instável do que o lugar onde você está agora. E mais promissor também.

Andando pelo caminho das estrelas

O caminho das estrelas é um fio que atravessa um abismo ligando o que você foi àquilo que se destina ser. Você não enxerga seu fim e sabe que passará muitas noites nessa travessia solitária que liga você ao outro Você.
Qualquer descuido nesse longo caminho poderá derrubá-lo, e você terá que recompor-se se quiser recomeçar.
Para cada passo, será preciso apoiar-se em um pé de cada vez, enquanto o outro pé vagará sem apoio. O fio balançará por causa de seus movimentos e de seu peso, e você precisará abrir os braços buscando o equilíbrio do corpo inteiro em um só pé. Visto de longe, com seus braços abertos, sua cabeça ereta, uma perna no fio e a outra esticada, a verdade se insinua: você próprio é o vir a ser de uma estrela.
Você não quer ser uma estrela cadente e, por isso, se empenha. Você quer ser a estrela que dançará triunfante na chegada.
Poderá surgir vento, frio, fome, medo do abismo e do escuro. Você persistirá. Vencerá suas vertigens e os obstáculos internos. Quanta insegurança! Vencerá porque sabe que cada passo à frente será um ultrapassar-se em direção a um ser novo e transbordante, aquele que terá transformado sua própria consciência.
A superação virá da sua força, do impulso e do avanço.
À sua frente estará o lugar onde a estrela de si próprio, que você mesmo terá trazido à luz, dará o grito de nascença no aqui e agora.

 

Referência:

[1] ANDRADE, Carlos Drummond de. Um Chamado João (1967). Disponível em http://memoria.bn.br/pdf/089842/per089842_1967_22894.pdf. Acesso em 22 Dezembro 2022.

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Informação sobre o artigo

Data da publicação: dezembro 21, 2022
Autor: Group of LOGON authors (Brazil)
Foto: Melissa Angela Flor (Pixabay)

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