No século 20, as pessoas perguntavam muito sobre como expandir a mente, sobretudo com a utilização de algumas substâncias. Por exemplo, nos anos sessenta prevalecia a ideia de que a marijuana era um presente dos deuses para prevenir a esclerose, a cristalização da mente, e que ela permitia que as pessoas escapassem de uma consciência auto limitadora sustentada pelas convenções sociais em vigor.
Mas, nessa época, rejeitava-se a ideia de que a adição dessa droga pudesse enfraquecer a mente. A crença que prevalece hoje é a de que o meio de expandir a mente é o consumo da ayahuasca
A realidade conhecida pela mente também existiria em um grande espectro mental. Será que a noção do Um, do Uno, daquilo que interpenetra tudo, precisa necessariamente ocupar um espaço mental superamplo? Mas há outras razões para desejarmos a expansão da mente: o sentimento de apreensão, de aprisionamento, de confinamento dentro das limitações absolutas impostos pela ordem socioeconômica; o fato de sentirmos uma necessidade de expansão devido a um sufocamento em meio a um clima normativo, burguês, hedonista, confortável, corrupto.
Em certos casos, existe uma nova fé, que até pode responder a esse desejo, a essa necessidade. É a crença de que um grande volume de dados, um oceano de informações, enriqueceria nosso consciente e o expandiriam a proporções espirituais. Essa consciência oceânica poderia nos religar ao Único, a Isso, de tal modo que o aprisionamento e o espírito estreito pertenceriam definitivamente ao passado.
A essa crença corresponde a esperança de que as tecnologias e a inteligência artificial nos manteriam em movimento de modo algorítmico, em um mundo espiritual suficientemente expandido para nos permitir respirar de maneira cósmica em um tempo absolutamente novo. A inteligência artificial, como nova forma de expandir a mente, poria ordem tanto no caos da sobrecarga quanto no modelo vicioso de nossa economia, e se tornaria o instrumento eficaz para recriar uma qualidade de vida sem desconforto.
Na verdade, o modelo econômico que conhecemos despreza a terra, a natureza e os homens. É com justiça que o escritor Yuval Noah Harari propõe uma questão pertinente em seu livro Homo Deus: Será que adotaríamos verdadeiramente a fé em um oceano de informações que supostamente expandiria a mente e aceitaríamos que nossos organismos nada mais fossem que algoritmos, e que a vida se reduzisse a um mero processamento de dados? Como pergunta final:
O que tem mais valor, a inteligência ou a consciência?
O atual entusiasmo da maioria da população por um gigante da informática como o Facebook implica uma ligação permanente com os dados que nós mesmos, por vaidade, geramos, e dos quais já não somos os únicos donos. O que leva a presumir que, no final das contas, somos uma maioria que, partindo da realidade virtual, escolhemos a facilidade, o prazer e o lucro.
Gostamos de esquecer que todo meio que supostamente expande a mente – seja natural e material ou ainda mental e digital – nos torna dependentes de forças dirigentes exteriores a nós mesmos. Na realidade, esquecemos que em nós mesmos se encontra um meio de expandir nossa mente sem necessidade alguma de dependência digital, de nenhum aporte de produtos exteriores. É um intermediário que a Gnosis pode nos mostrar e do qual pode nos conscientizar. O que chamamos de “expandir a mente” passa a significar, então, “fazer desaparecer a ignorância”. Nosso mediador interno é o Espírito, que nos oferece o espaço espiritual e a abertura. E onde está o Espírito, lá está a liberdade.