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Talvez a confusão esteja em acreditar que, ao pensar ou dizer algo em voz alta, já o fizemos. Mas há um longo caminho entre dizer algo e realmente fazê-lo. Há um esforço.
Aparentemente somos motivados pela pressa em alcançar a felicidade e a realização eternas, mas ao mesmo tempo ficamos confusos. A sociedade atual substituiu o sentido da vida por sensações; estamos imersos na estimulação constante dos sentidos, somos escravos do imediatismo e fugimos do silêncio.
Essa fuga responde ao medo de enfrentar o nosso vazio interior, à sensação de ter perdido o rumo e de não ter nenhum propósito real na vida. Buscamos a felicidade como se fosse uma pérola, como se encontrá-la dependesse da sorte de chegarmos ao estado perfeito. Todos nós queremos a receita secreta. Todos nós queremos que esse mantra, essas três afirmações e aqueles dois jeitinhos sejam capazes de nos tornar pessoas realizadas e acabar com essa inércia que nos alimentou com sua força por tantos anos, talvez por toda a nossa vida.
Se parássemos para analisar cada pensamento nosso, perceberíamos que a grande maioria das reclamações são proporcionais ao medo com que vivemos as nossas vidas: quanto mais medo há, mais nós nos fechamos, menos vemos e mais reclamamos.
É difícil enfrentarmos esse sentimento de incerteza, por isso nos protegemos dele, disfarçando-o de vitimismo ou buscando um acúmulo de sensações que acalmem o vazio. Procuramos pelo barulho, por coisas a acontecer, porque o silêncio nos aproxima de nós mesmos e isso pode parecer um abismo.
A realidade é que a única saída é a honestidade que devemos ter conosco mesmos. Devemos começar por abrir os olhos, mesmo que às vezes seja desconfortável, e abandonar as nossas expectativas de “como as coisas deveriam ser”. A principal diferença é, portanto, a confusão. Muitas práticas fazem que nos sintamos bem, mas espiritualidade nos faz conscientes, e às vezes ser consciente não é tão agradável.
Ter consciência de algo significa assumir a responsabilidade pelo que você é e pelo que faz, com tudo o que isso acarreta. Significa entrar no mundo das causas e deixar de justificar ou embelezar os seus efeitos.
É por isso que o desenvolvimento espiritual requer compromisso, humildade, coragem e ousadia. Não conseguimos enxergar a imensidão da qual fazemos parte, e às vezes nos deparamos com provações que nos obrigam a romper com nossas crenças e reconhecer nossos limites, e mesmo que não pareça, este é o primeiro passo, porque implica a vontade de abrir mão de tudo e se abrir para algo novo.