Uma Ilusão Globalizada

Uma Ilusão Globalizada

Você prefere ouvir este artigo?

Talvez a confusão esteja em acreditar que, ao pensar ou dizer algo em voz alta, já o fizemos. Mas há um longo caminho entre dizer algo e realmente fazê-lo. Há um esforço.

Aparentemente somos motivados pela pressa em alcançar a felicidade e a realização eternas, mas ao mesmo tempo ficamos confusos. A sociedade atual substituiu o sentido da vida por sensações; estamos imersos na estimulação constante dos sentidos, somos escravos do imediatismo e fugimos do silêncio.

Essa fuga responde ao medo de enfrentar o nosso vazio interior, à sensação de ter perdido o rumo e de não ter nenhum propósito real na vida. Buscamos a felicidade como se fosse uma pérola, como se encontrá-la dependesse da sorte de chegarmos ao estado perfeito. Todos nós queremos a receita secreta. Todos nós queremos que esse mantra, essas três afirmações e aqueles dois jeitinhos sejam capazes de nos tornar pessoas realizadas e acabar com essa inércia que nos alimentou com sua força por tantos anos, talvez por toda a nossa vida.

Se parássemos para analisar cada pensamento nosso, perceberíamos que a grande maioria das reclamações são proporcionais ao medo com que vivemos as nossas vidas: quanto mais medo há, mais nós nos fechamos, menos vemos e mais reclamamos.

É difícil enfrentarmos esse sentimento de incerteza, por isso nos protegemos dele, disfarçando-o de vitimismo ou buscando um acúmulo de sensações que acalmem o vazio. Procuramos pelo barulho, por coisas a acontecer, porque o silêncio nos aproxima de nós mesmos e isso pode parecer um abismo.

A realidade é que a única saída é a honestidade que devemos ter conosco mesmos.  Devemos começar por abrir os olhos, mesmo que às vezes seja desconfortável, e abandonar as nossas expectativas de “como as coisas deveriam ser”.  A principal diferença é, portanto, a confusão. Muitas práticas fazem que nos sintamos bem, mas espiritualidade nos faz conscientes, e às vezes ser consciente não é tão agradável.

Ter consciência de algo significa assumir a responsabilidade pelo que você é e pelo que faz, com tudo o que isso acarreta. Significa entrar no mundo das causas e deixar de justificar ou embelezar os seus efeitos.

É por isso que o desenvolvimento espiritual requer compromisso, humildade, coragem e ousadia. Não conseguimos enxergar a imensidão da qual fazemos parte, e às vezes nos deparamos com provações que nos obrigam a romper com nossas crenças e reconhecer nossos limites, e mesmo que não pareça, este é o primeiro passo, porque implica a vontade de abrir mão de tudo e se abrir para algo novo.

Compartilhe este artigo

Informação sobre o artigo

Data da publicação: fevereiro 5, 2024
Autor: Verónica Orozco (Spain)
Foto: by NEOM on Unsplash CCO

Imagem em destaque: