Primeiro, era toda aquela trabalheira para você conseguir organizar sua vida adequadamente. Infelizmente, tudo aquilo que você visualizava como o emprego de seus sonhos, o parceiro perfeito e uma vida estável e tranquila foi bruscamente atropelado pela realidade, e, mesmo assim, você precisava definir suas metas para o amanhã. Mas o amanhã nunca chega, porque o hoje fica na frente do caminho.
Então você tenta outros rumos: este e aquele caminho e, finalmente, seu próprio caminho, e vai dando seus passos a partir de uma vida exterior para uma vida interior.
Durante toda a sua vida seu ego lhe disse: “Quando todas as peças do quebra-cabeça se encaixarem, você vai ter paz e tranquilidade”. Mas a alma sabe que é o contrário! Somente quando houver paz e tranquilidade é que todas as peças vão se encaixar. Mas esteja avisado: a qualquer momento, o quebra-cabeça pode cair em pedaços! E é isso que você quer? Você tem coragem para isso? Tem confiança?
Todo mundo ao seu redor ficava aconselhando, cada um de um jeito diferente: “Mantenha os pés no chão!”. Mas essa é a pior maneira de você conseguir ir para frente.
Todos os dias, recebemos 86.400 segundos valiosos do Banco da Vida, e, bem gastos ou não, essas unidades não mais retornam, pois o tempo não pode ser economizado.
Além disso, não controlamos imprevistos: sua conta no Banco da Vida pode ser encerrada a qualquer momento. E então, o que vai sobrar do livro inacabado de sua vida? Se você não começar sua jornada, só vai andar em círculos no primeiro capítulo, que, a essas alturas, você já conhece de cor. Então… caso um novo amanhã ainda não tenha chegado, mexa-se, hoje mesmo! Comece o caminho do peregrino com um chapéu feito de coragem, uma mochila cheia de perseverança e uma capa de peregrino tecida com os fios de seu mais profundo desejo.
Na verdade, já não sei quem sou
Nem para onde devo dirigir meus passos
Cantava o troubadour Vridanc, como está registrado em seu poema Humildade, no século 13.
Ser peregrino dessa maneira significa perder-se na direção certa – viver na certeza e na aceitação de uma incerteza, de olhos abertos. E não são os obstáculos que você vai encontrar em seu labirinto interior que mais o impedirão, mas sim a pedrinha em seu sapato, chamada ego.
Você está em busca de um caminho – a senda da qual os grandes mestres falam – mas logo descobre que só existe o seu caminho: aquele que você vai abrindo por si mesmo, avançando passo a passo. Então você descobre que não se trata de imitar a vida desses mestres, mas sim de sair em busca daquilo que eles buscavam em seus caminhos como peregrinos. Infelizmente, não há trilhas bem percorridas, apesar de que, curiosamente, de vez em quando existam alguns portais em seu caminho: o Portal do Desapego, porque algumas coisas são pesadas para você carregar; o Portal do Autoconhecimento, do qual você emerge em plena imperfeição – mas com a tarefa de não ter medo ou culpa por essas imperfeições; o Portal da União, no qual você sente a dolorosa unidade com a humanidade, mas também a profunda alegria da unidade com o Todo.
Sete portais – sete missões – sete contribuições – sete dons. São sete espirais que se elevam na busca do peregrino: do eu, ele passa a buscador; de buscador, à alma; de alma, ao Eu abnegado e altruísta.
Milagrosamente, o buscador que partiu em sua busca não é o mesmo que chega! O caminho muda enquanto você o percorre e, por sua vez, o caminho muda o peregrino. A cada passo, a cada tropeço, você vai exercitando seus músculos espirituais. Cada ponte sobre um barranco esburacado oferece uma vista deslumbrante da Montanha da Realização.
E, finalmente, você percebe que a própria peregrinação também passa por uma transformação. Depois das fases iniciais de busca, da exploração do caminho, da conquista de melhor percepção e da sua escolha de rumo, agora é hora de seguir o caminho deixando para trás, implacavelmente, qualquer inconveniente que você possa encontrar. Cada passo é um desapego e a cada desapego você recebe mais: você perde seu mundo e ganha o universo!
Referência:
Este artigo foi publicado pela primeira vez na revista Pentagrama 2017, número 1.