O final de cada ano é quase sempre um período de avaliação, um puxar a conta de ganhos e perdas, progressos e retrocessos, renovação de esperanças de que o novo ano seja melhor. Refletimos sobre o passado e o futuro como se chegássemos ao final de uma corrida e tivéssemos que olhar criticamente o caminho percorrido, além de nos organizarmos para melhorá-lo na próxima e limitada oportunidade.
Mas não é preciso refletir sobre o ciclo anual em uma data marcada no calendário, quando estamos sujeitos às comoções dos encontros comemorativos e somos levados a pensar de modo mais emotivo. A passagem de ano pode adquirir um sentido diferente e mais profundo.
No cerne dos rituais de virada do ano está o tempo cronológico, determinado. Do ponto de vista cósmico, após cerca de 365 dias retornamos ao ponto de partida.
Convencionou-se usar o solstício de inverno do hemisfério norte do planeta, 31 de dezembro, como data da virada do ano, após o que se inicia nova contagem. No hemisfério sul, o solstício de inverno ocorre em julho.
O inverno é considerado o período de introspecção da natureza, quando as sementes dormem sob a terra e alguns bichos hibernam. Por isso, quando um interessado na espiritualidade busca respostas, está simbolicamente no seu inverno. Depois vem a primavera, quando tudo floresce. Corresponde a quando o buscador que achou seu caminho vê florescer em si um ciclo novo. Depois disso ele terá sua estação particular de verão (frutos) e de outono (fim do ciclo/retorno).
A grande revolução
Quando o relógio bate meia-noite do dia 31 de dezembro, trocamos com amigos e parentes desejos de uma boa viagem no ano que se inicia, com muita felicidade e bênçãos. Porém, não há nada de velho ou de novo começando.
A estreia de um novo calendário não muda absolutamente nada nesse sentido. Diariamente nós abrimos um ciclo de 365 dias. O que você faz todos os dias? Vive cada um como se ele fosse um novo início, uma realidade inteligente e vibrante?
A não ser por nossa esperança, tudo é sempre a mesma coisa e só mudará quando operarmos a grande revolução em nós mesmos.
O poeta Carlos Drummond traz que:
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
Cochila e espera desde sempre
A véspera do Ano-Novo somente recebe seu verdadeiro e mais profundo sentido quando significa a despedida definitiva do ser do tempo.
Se o tempo é uma criação, é revolucionário libertar-se dele, pois o foco é o triunfo da eternidade: o não-tempo. Essa é uma tarefa poderosa, abrangente, mágica e transformadora.
Primeiro é preciso refletir sobre a natureza e a essência do processo. Depois, preparar-se para a completa modificação da qualidade e da natureza do microcosmo, que lhe conferirá uma força nova.
Quando alguém toma a resolução de seguir a senda, festejará seu réveillon neste momento e apenas uma vez na vida! Tal passo é absoluto e definitivo e assinala a véspera do Ano-Novo pessoal.
Ocorre, então, a passagem do velho para o Novo, mediante a grande revolução.
Referências
Jan van Rijckenborgh; Catharose de Petri. A Grande Revolução, p. 149, 2ª edição, 2011, Editora Lectorium Rosicrucianum, São Paulo – SP.
Carlos Drummond de Andrade. Receita de Ano Novo, p. 83, 1ª edição, 2015, Editora Companhia das Letras, São Paulo -SP.