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Não há ponto de chegada nem de partida, mas um fluxo contínuo de renovação.
No dizer de Belchior, compositor e cantor cearense,
o que ontem era novo, hoje é antigo, e precisamos todos rejuvenescer.
Embora haja em nós uma tendência para certa cristalização, nada permanece imóvel, sem mudança, pois a vida é um moinho: tudo tritura e renova.
O momento de estabilidade ou descanso é apenas para tomar fôlego e prosseguir.
Há algum sentido nesse fluxo?
Claro que sim… A razão dos fatos acaba sempre ficando explícita para nós.
Sobre isso, Albert Camus, escritor e filósofo francês, em um trecho de O Mito e Sísifo, diz:
Cenários desabarem é coisa que acontece. (…)
Um belo dia, surge o ‘por quê?’ e tudo começa a entrar numa lassidão tingida de assombro. Depois do despertar vem, com o tempo, a consequência.
A despeito da contínua mudança, por vezes, a sensação é de que o tempo parou…
E Camus completa:
Às vezes, continuar, apenas continuar, é a conquista sobre-humana.
No entanto, nem sempre ficamos confortáveis frente à mudança. Preferimos nos apegar à estabilidade e à ilusão de que podemos controlar o fluxo da vida.
Por não aceitar que somos realmente frágeis, temos medo de ser “triturados” pelos acontecimentos.
Mas, se observarmos a natureza intrínseca deste mundo, verificaremos que a mudança é sua marca, além de ser uma grande bênção.
Nascemos, crescemos e experimentamos toda essa maravilha do viver, mas precisamos ter consciência de que não viemos aqui para ficar: estamos só de passagem.
E vamos seguir. O que virá não sabemos, mas não importa, verdadeiramente.
Só nos cabe aceitar, compreender a instabilidade das coisas; e experimentar, sem medo ou preocupação, tudo que nos é reservado. Pode não ser fácil, mas é preciso, é fundamental.
Enfim, “continuar, apenas continuar, é a conquista sobre-humana”.
A noite se vai
pois o sol ilumina o mundo
e a vida segue seu curso vibrante
num constante lapidar.
Onde tudo isso vai dar?
Não sabemos,
nem é preciso.
Só é preciso seguir
e sentir que tudo tem propósito
e toda mudança tem seu sentido mais interior…
Referências:
BELCHIOR, Antônio Carlos. Velha Roupa Colorida. In: BELCHIOR, Antônio Carlos. Alucinação. Rio de Janeiro: PolyGram, através do selo Philips (atual Universal Music), 1976. 1 disco sonoro. Lado A. Faixa 2.
CAMUS, Albert. O mito de Sísifo. Tradução de Ari Roitman e Paulina Watch. 11a. ed. Rio de Janeiro: BestBolso, 2019.