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Muitas canções dão-nos a impressão de falar para a alma.
Isso, por vezes, acontece quando ouvimos Milton Nascimento, um cantor e compositor brasileiro de voz poderosa e mansa cujo repertório é repleto de músicas que remetem cada ouvinte ao seu próprio interior.
O toque na alma é sentido pelo buscador inquieto do seu único e verdadeiro Eu. Esse caçador de si mesmo costuma se deliciar quando encontra expressões artísticas que ressoam na camada mais profunda de sua consciência.
Quando um artista usa a linguagem poética, a que é ouvida mais pelo coração, é como se ratificasse em sua obra que, sim, existe algo que muitos de nós procuramos em nosso interior, algumas vezes incertos sobre sua existência. O ouvinte identifica que sua busca não é solitária.
Sem dúvida, esse tesouro poético é uma pista de que ele está no caminho certo, de que há algo que dá sentido à vida. E, então, a busca do que transcende a vida comum deixa de soar como uma aposta.
A interpretação por Milton Nascimento da música Caçador de Mim é uma das mais conhecidas. Foi composta por Sérgio Magrão e Luiz Carlos Sá e inspirada no livro “O apanhador no campo de centeio”, de J. D. Salinger, que trata do encontro e aceitação da própria personalidade e — por que não? — o que está além dela, o Eu espiritual.
Nada a temer senão o correr da luta
Nada a fazer senão esquecer o medo
Abrir o peito à força numa procura
Fugir às armadilhas da mata escura
Longe se vai sonhando demais
Mas onde se chega assim?
Vou descobrir o que me faz sentir
Eu, caçador de mim.
É um hino à coragem da procura de si mesmo. De voltar-se para si. Que o caçador esqueça o medo da vida (essa mata escura com suas armadilhas), ainda que temendo o correr da luta diária, e se abra à procura do seu verdadeiro ser.