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Aristóteles entendia que “o inteligível reside no sensível” (De Anima, L. III, c. 8). Podemos interpretar essa frase a partir da ideia de que as formas essenciais (específicas do real) não podem ser “percebidas” (ou entendidas) “diretamente”, mas devem mostrar-se “por um meio”. Esse meio é a imagem sensível pela qual, segundo Aristóteles, é possível encontrar o essencial.
Aristóteles afirma, no mesmo livro, que existe “um intelecto capaz de tornar-se todas as coisas” e outro “capaz de fazer todas as coisas”. Assim, o intelecto humano teria duplo aspecto e, portanto, apenas uma parte seria “imortal e eterna”: o “nous”.
O filósofo acrescenta que esse nous “não pensa sem imagens” (De Anima, L. III, c. 7), o que significa que o “nous” ou a Alma espiritual usa ideias simbólicas e, por essa razão, precisa de símbolos para formar “ideias universais”.
Se pensarmos bem, isso tem sua lógica. A realidade do transcendente (os conceitos universais) é, por si só, incompreensível, e só é possível chegar a ela por meio da “indução” (intuição). “A indução é o caminho para os conceitos universais a partir das realidades individuais” (Tópicos, L. A. c. 12). Em outras palavras, as definições e os conceitos baseados no conhecimento intelectual pecam pela imprecisão, porque são dirigidos à razão intelectual. Já o símbolo, dirigido à intuição, explica o incompreensível (o que ainda não é compreendido pela razão) de modo espontâneo. É por isso que, desde a mais remota antiguidade, o símbolo tem sido usado na divulgação de ensinamentos espirituais, já que uma parte do corpo mental do ser humano (geralmente, a única parte desenvolvida) está associada a uma base psicológico-cultural de pensamentos ilusórios, enquanto que a “Ideia Pura” ou “Arquétipo” está associada ao “nous” imortal.
O “Hexagrama”
Após esses esclarecimentos, ficará mais fácil entendermos o simbolismo de uma figura geométrica muito conhecida: o “Hexagrama”, também chamada de “Estrela de Davi” ou “Selo de Salomão”. Essa figura é composta por dois triângulos equiláteros invertidos e entrelaçados, que determinam um hexágono central regular, cercado por seis triângulos equiláteros iguais e coincidentes de tamanho menor.
Hexagrama Regular:
“Metraton”, com os 13 círculos do ‘Fruto da Vida’. A Estrela de Davi é facilmente identificável em sua estrutura central:
Estrela de Davi. Sinagoga de Cafarnaum, Israel, séculos III e IV d.C:
Como todo símbolo, o hexagrama contém vários significados em sua expressão gráfica. Em seu significado mais difundido, ele representa a ligação entre o celestial e o terrestre, entre o divino (macrocosmo) e seu reflexo na criação (o microcosmo). Isso explica a razão pela qual ele evoca o pacto entre a divindade e Abraão para os judeus. Já para a alquimia, ele se apresenta como o emblema do fogo e da água. Para os cabalistas, o triângulo apontando para cima simboliza o “Ser Supremo”, enquanto que o triângulo com o vértice apontando para baixo seria a sephirah final maljut (realeza), o atributo final dentro da Criação, associada à alma e ao poder de autoexpressão, que absorve a energia dos atributos superiores e os utiliza para descer e criar tudo.
Sob outra perspectiva, a sobreposição dos triângulos simboliza o “andrógeno”, o ser masculino-feminino em perfeito equilíbrio com a divindade. O centro invisível da estrela representa o núcleo interno divino do ser humano espiritualizado, que recebe sua força dos vértices externos, que representam, portanto, a presença divina no interior do ser humano.
A tríade material e espiritual do ser humano
Após estes esclarecimentos, tentaremos agora nos aprofundar em outro aspecto simbólico da Estrela de Davi.
Sabemos que o universo manifestado é número e geometria (essa realidade científica e esotérica é perceptível somente pela observação das estruturas geométricas que nos cercam: as formações de cristais e outros minerais, etc.).
Por consequência, o ser humano manifesta-se em um corpo material triplo e, por meio do que normalmente chamamos de “processo espiritual”, deve desenvolver um Corpo de Luz trinitário e imortal. Sem dúvida, tanto a tríade material quanto a espiritual apresentam formas geométricas mais ou menos sutis. No entanto, não é nosso objetivo estender-nos sobre cada uma delas. É suficiente que saibamos que a Simbologia Sagrada faz alusão a essas tríades por meio da Geometria.
A tríade espiritual — ou Triângulo Superior — da constituição humana é formada por três aspectos que a Teosofia classifica como:
-Atman.
-Buddi.
-Manas (mental superior).
A tríade material — ou Triângulo Inferior — da constituição humana (personalidade) é formada por três outros aspectos:
–o Corpo físico-etérico (ligado a três estados de energia: sólido, líquido, gasoso quatro estados etéricos)
-o Corpo astral.
-o Manas (mental inferior).
O desenvolvimento espiritual do ser humano envolve o desenvolvimento e a união da tríade espiritual (o Triângulo Superior) e sua posterior união com a tríade material (Triângulo Inferior), formando assim a Estrela de Seis Pontas (ou Estrela de Davi).
Estamos mais ou menos cientes do que é o corpo físico com sua contraparte etérica ou vitalizante, do corpo astral — corpo por meio do qual o ser humano expressa suas emoções e sentimentos — e do corpo mental inferior — corpo que nos permite raciocinar, princípio este que diferencia o ser humano do animal. Menos conhecida, porém, é a tríade espiritual, o Triângulo Superior. Pode-se dizer que a estrutura espiritual do ser humano é a expressão de seu Princípio Monádico ou de seu Núcleo Monádico.
O núcleo monádico — também conhecido como centelha atômica do espírito ou como centelha divina — é o princípio espiritual proveniente do Fogo do Absoluto ou da “Causa sem Causa”: o Pai, presente em todo ser humano. É a essência mais pura, o deus interior ao qual todo ser humano está unido.
Podemos considerar as Centelhas Monádicas como a vida exalada pelo Logos, ou como os pensamentos do Absoluto que se espalham pelo universo para desenvolver o plano da divindade.
Uma vez criadas essas Centelhas Monádicas, elas reencarnam nos reinos inferiores (involução), progredindo gradualmente pelos diversos reinos (mineral, vegetal, animal, humano) até que, encarnadas em um ser humano, possam empreender seu retorno às regiões divinas de onde emergiram (evolução). Ao longo desse processo evolutivo, o Núcleo Monádico ou Átomo Centelha do espírito incorpora em si a essência dos diversos reinos, desenvolvendo assim a autoconsciência.
Já ressaltamos que esse Átomo Centelha, presente no ser humano, desenvolve, como meio de expressão, uma estrutura espiritual tripla que a Teosofia chama de Atman-Buddhi-Manas.
Atman é a expressão do Espírito puro e eterno. Atman-Buddhi é a Alma divina do ser humano e também sua razão pura e intuitiva. Ela é o primeiro revestimento do Atman. Cabe ao ser humano “despertar” e “vitalizar” Buddhi, a fim de transformá-la no veículo que lhe permitirá acessar a verdadeira Sabedoria.
Manas superior é o ser humano como um reflexo da Mente universal, o seu verdadeiro corpo mental e também seu princípio “sensorial” dotado de sensibilidade e consciência. É seu verdadeiro Ego.
O Manas é dual em sua essência. Unido aos princípios inferiores do corpo físico, do corpo etérico ou vital e do corpo astral, ele forma a personalidade mortal do ser humano. Unido a Buddhi, forma a Alma Espiritual (em oposição a Káma-Manas, a alma humana não espiritualizada).
Junto com Buddhi e Atman, eles formam a tríade superior imperecível e, por meio dela, formam também o corpo imortal, o “Homem Espiritual”.
Assim, vemos como o Simbolismo Sagrado traz, ao longo dos séculos, o conhecimento intuitivo do que o homem precisa para se tornar um verdadeiro Manas, um verdadeiro Pensador.